quarta-feira, 8 de julho de 2020

Quem são os vilões da memória: é possível combatê-los?


Como utilizar melhor a memória operacional no aprendizado ...
Importante saber que muitos problemas de memória muitas vezes não estarão presentes em decorrência de um problema de saúde, mas talvez pela convivência com os que chamamos de vilões da memória. Um deles seria a falta de atenção, sabe-se que a atenção é a primeira etapa do processamento da memória recente, quanto mais atentos estivermos melhor será o nosso desempenho de memória.
A desorganização ambiental, a falta de uma rotina obrigatória pré-estabelecida, também colabora para que nosso cérebro fique mais preguiçoso, interferindo em um pior desempenho do processamento das nossas habilidades mentais.  Por isso estabelecer um ritmo de tarefas obrigatórias e que envolvam hábitos de vida saudáveis são fundamentais para uma boa qualidade do processo de memorização, e do resgate da informação memorizada.
Outro aspecto importante a se atentar principalmente em pessoas adultas e idosas, é o desempenho da chamada acuidade visual, ou seja o quão sua visão está preservada e mantida, para interpretar as informações sensoriais visuais recebidas do meio, pois é descrito na ciência que pessoas com dificuldades visuais não corrigidas, seja por óculos, lentes oculares, cirurgias, podem ter um pior desempenho de memória e a longo prazo desenvolver doenças neurodegenerativas. O mesmo acontece com a capacidade auditiva, um indivíduo que em sua fase adulta relata sentir dificuldades auditivas, decorrentes de mudanças do processo normal do envelhecimento, precisa procurar auxílio de profissionais especializados, uma vez que a dificuldade auditiva também está relacionado a um pior desempenho de memória.
Neste sentido podemos ter algumas dúvidas que surgem, por que a dificuldade visual e auditiva seriam vilões da memória? Porque estas dificuldades interferem nos estímulos recebidos pelo cérebro, e, além disso, muitas vezes pessoas com estas dificuldades passam a se isolar socialmente, interagindo menos com outras pessoas, e consequentemente buscam por menos estímulos de memória e de atenção, apresentando assim um estilo de vida pouco desafiador para as habilidades mentais.
Ressalta-se também dentre os vilões da memória o estado de humor e a presença de sintomas de ansiedade, indivíduos deprimidos e ou com a presença de sintomas de ansiedade, são indivíduos com dificuldades de atenção e concentração e consequentemente apresentam um pior processamento da memória, são pessoas que costumam se esforçar menos para novas aprendizagens, possuem crenças negativas sobre o seu desempenho cognitivo por se acharem menos capazes de enfrentar grandes desafios, pois apresentam pensamentos negativos e falta de ânimo na maioria das vezes. Em relação a este aspecto a nossa dica seria, cuide do seu estado do humor, a partir do momento que ele interfere na sua qualidade de vida, pode não ser um aspecto de sua personalidade, mas sim um problema de saúde a ser tratado.
Quando pensamos na saúde mental, importante também se atentar à qualidade do sono, pois a insônia é uma grande vilã para um pior desempenho do funcionamento das habilidades mentais, é durante o sono que formamos as aprendizagens adquiridas durante o dia, então uma boa qualidade do sono é fundamental para um bom funcionamento da memória.
Nos estudos das neurociências também se destaca a importância de evitar o uso abuso de alimentos industrializados, com excesso de açúcares e gorduras saturadas, pois em excesso estes alimentos podem acumular no cérebro proteínas não utilizadas, os radicais livres, e podem possibilitar o aparecimento de toxinas no cérebro, que a longo prazo podem gerar prejuízos no funcionamento das habilidades mentais, sendo um fator de risco para o desenvolvimento de demências.
No entanto sabemos que embora convivamos com vilões que interferem no desempenho da memória, temos que nos lembrar que há formas de combatê-los que seria através dos hábitos de vida saudáveis, como uma alimentação balanceada, boa qualidade do sono, realização de exercícios intelectuais que estimulem as habilidades cognitiva (como por exemplo os exercícios de ginástica cerebral), a prática regular de atividades físicas prescritas por um profissional, e os cuidados com o estado de humor e com a prevenção ou manejo adequado de doenças crônicas presentes. Evite vícios, seja em alimentos industrializados, jogos de azar, desafie-se, busque a interação social, e viva uma vida saudável e com tranquilidade em todas as fases da vida.
Texto por Thais Bento Lima da Silva, Gerontóloga, Mestra e Doutora em Neurologia pela USP, Docente da Graduação em Gerontologia pela EACH USP, Consultora da Empresa MaturiQuality.